O Profeta Eliseu
Por: Sultana Levy Rosenblatt
Estava o jovem Eliseu lavrando a terra, quando aproximou-se um ancião vestido de maneira estranha, e atirou sobre ele a sua capa. Eliseu imediatamente o identificou. Era o profeta Elias. Vinha buscá-lo para que o acompanhasse. Eliseu nem sequer por um instante vacilou. Apenas pediu ao profeta que o esperasse alguns momentos. “Deixe-me beijar meu pai e minha mãe e então te seguirei”. Começou aí a peregrinação do profeta Elias com aquele designado pelo Senhor – “Ungirás Eliseu profeta em teu lugar”.
A certo ponto, porém, Elias quis desfazer-se do companheiro e seguir sozinho a Bethel. Eliseu insistiu em acompanhá-lo. E de Bethel foram a Jericó.
Em ambas cidades os filhos dos profetas perguntavam a Eliseu – “Sabes que o Senhor, hoje, tomará o teu senhor?” Sim, ele sabia… Seguindo para o Jordão Elias novamente insistiu que Eliseu o deixasse. Inutilmente. “Então Elias tomou a sua capa, dobrou-a e feriu as águas, que se dividiram, e passaram ambos em seco”.
Chegara o momento da despedida. “Pede o que quiseres que eu te faça, antes que eu seja tomado de ti”, disse o profeta. Eliseu nem vacilou. – “Peço-te que haja porção dobrada do teu espírito sobre mim”. Era muito pedir, mas o profeta concedeu: “Se me vires quando eu for tomado de ti, assim se fará”.
Nesse instante um carro de fogo, puxado por vários cavalos também de fogo, os separou. “E Elias subiu ao céu num redemoinho”. Em vão os filhos dos profetas o procuraram durante três dias por montes e vales. O desaparecimento do profeta Elias ficou entre os mistérios insolúveis. Acredita-se que o profeta subiu ao céu e Eliseu herdou os poderes sobrenaturais do seu mestre, provados em repetidos milagres. O primeiro aconteceu quando os habitantes de Jericó lhe informaram que “a cidade era boa mas as águas eram más e a terra estéril”. Jogando um punhado de sal no manancial das águas, ele assim falou: “Diz o Senhor: sararei estas águas, não haverá mais nelas morte nem esterilidade”. E ficaram as águas sãs para sempre.
O segundo milagre ocorreu quando uma viúva procurou-o para se queixar que os credores do seu marido queriam tomar-lhe os filhos como pagamento das dívidas deixadas pelo finado. – “O que tens em casa?” perguntou ele a mulher – “Nada” disse ela, “a não ser uma botija de azeite”. Era o bastante para um profeta miraculoso. Mandou que a mulher tomasse emprestadas dos vizinhos muitas vasilhas, as enchesse de azeite, que se multiplicaria até chegar a uma quantidade que desse para cobrir a dívida do finado e ainda sobrasse para o sustento dela e seus filhos. E assim aconteceu.
Depois veio o milagre com que retribuiu a bondade de uma sunamita que se compadeceu dele, preparou-lhe um quarto especial e o hospedou. Fez com que, apesar de ser casada com um homem já considerado velho, ela concebesse e viesse a ter um filho, completando a felicidade do casal.
Os anos passaram e esse mesmo menino veio proporcionar-lhe a oportunidade de realizar outro ainda mais extraordinário milagre. Estando a trabalhar com o pai no campo, o rapazinho foi acometido de terrível dor de cabeça, e gritava – “Ai minha cabeça! Ai minha cabeça!” – “Leva-o à sua mãe”, ordenou o pai a um empregado.
Minutos depois o menino morreu nos braços maternos. A mãe carregou-o, levou-o para o quarto que o profeta Eliseu ocupara, deixou-o na cama, e montando um jumento partiu para o Monte Carmelo onde se encontrava o “homem santo”, trouxe-o consigo. E o profeta Eliseu “orou ao Senhor e o menino abriu os olhos…”
Continuou o profeta Eliseu realizando vários milagres. Com apenas vinte pães saciou a fome de cem homens. Curou leprosos. Ressuscitou mortos.
E chegou ao fim de uma longa vida pontilhada de milagres extraordinários. Até depois de morto, enterrado, faria o mais impressionante de todos. Conta assim a Bíblia – “Morrendo um moabita, o lançaram na sepultura de Eliseu. E caindo nela o homem, e tocando os ossos de Eliseu, reviveu e se levantou sobre os seus pés”.
Por que razão o profeta Eliseu não recebe num lar judaico a mesma veneração dispensada ao seu mestre Elias? Talvez tenham na “balança do julgamento final” pesado contra ele mais do que a glória dos milagres realizados, o infortúnio da morte de quarenta e dois rapazinhos praguejados por ele (e despedaçados por lobos), porque, subindo ele a Bethel, divertiam-se os garotos gritando-lhe: “Sobe, calvo, sobe!”…
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